quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sapateiro


O martelo esmagava os pregos vencidos
Lembro da minha infância reservada naquele momento esquecido
Onde você se meteu velho homem cheirando cola?
Sinto falta do odor que me fazia ficar livre pra ir pra escola
O valor da sola já não é mais mesmo
Gasto pela velocidade das passadas você sumiu enfermo

Se antes eu cuidava dos meus sapatos
Hoje faço meu pé provocar um estrago
Gasto o cadarço rasgado e troco logo o andar viciado

Corro, corro e chego primeiro
Sem lembrar que o importante é ser terceiro
Onde está você sapateiro?
Rei das solas e das colas do mundo inteiro

Corro, corro e escorrego no brejo
Sem lembrar que o importante é ser terceiro
Onde está você sapateiro?
Meu parceiro de lembranças insanas

Destruíram a dignidade de uma atividade
São mil calçados mal aproveitados jogados no lixo na cidade
Tudo se troca se transfere e desaparece
Solidários solitários vão reciclar vidas em bondade

Se antes eu cuidava dos meus sapatos
Hoje me entrego ao descaso meu gosto apurado
Gasto o solado socado e troco logo meu andar cansado

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O casal


As nossas vidas foram unidas nessa rede de mentiras
E agora pra ser feliz disfarço um sorriso suicida
O que você carrega em sua colméia é muito maior que o nosso amor de estréia
Por isso invento caras e bocas e espero o anjo sair da toca
Tentei fugir da picada sem graça que é assistir TV e chorar por nada
Então escapo pela rua sem estrutura e me deixo levar por uma puta sem censura

Pré Refrão

Passo os dias a ensinar o passado e tudo que ganho é um pão amassado
Comi o bolo de espinhos que você me fez só pra te mostrar a coragem que tive no altar

Refrão

Sei que não é fácil pra nós
Inventar um mar de rosas só pra não ficarmos sós
A vida às vezes enrosca o pé
E é preciso dar luz a uma nova fé
Ele apareceu com os olhos fechados
E não paquerou nem de longe o nosso mundo de estragos

A Família que não se humilha entre si não vai semear maravilhas pra seguir
Quem nunca acordou com os roncos da sogra jamais entenderá o que de fato lhe sobra
Aprendi a dar valor sem dor aos pequenos dias comuns com sabor de favor
Converso com sua barriga muda e chamo de pai o filho que me escuta

Pré Refrão 2

Tento expulsar o aborto do seu porto
E te pego na estrada quase morto
Passo as noites a buscar seus desejos
Pra alimentar o novo enredo que virá

Refrão